07 novembro 2014

e de repente é noite (XLV)

Faz hoje anos que nasceu em Vila Flor o escritor João de Sá. Como tem sido uma fonte de inspiração deste blogue quase desde o momento da sua criação, esta data não podia passar sem mais um pequeno poema de sua autoria.
Tenho andado a publicar excertos do livro "E de repente é noite". É uma escrita bastante triste, mas ao mesmo tempo bela e cheia de interrogações e sentimentos. Quando terminar de publicar o livro completo, prometo partilhar excertos de outros livros.

Que mãos sacodem velhas ferrugens
nos gonzos dos portões da quinta?
Será por ti o vento ou pelo que nós dois
ocultámos de contornos de medos
soletrados por inamovíveis angústias?
Uiva um cão dentro de uma noite
antiquíssima, tão antiga
que sua existência se nos afigura duvidosa.
E não há razões claras que absolvam
a solidão de nos ferir por tantos caminhos
que negámos à convergência dos nossos destinos.
Agora as rotas apontam aos umbrais da demência
e só a rotação dos teus olhos persiste
em desenhar o ciclo do trigo.
Tudo isto te digo embora experimente
uma fadiga expectante de tintas
em quadro concluído.
Se me ouvisses neste instante,
talvez nos absolvesses
e culpasses os ventos e a noite.

Poema de João de Sá, do livro "E de repente é noite", 2008.

João Baptista de Sá, nasceu em Vila Flor, a 7 de Novembro de 1928, filho de D.ª Maria Vicentina de Sá Correia, natural de Vila Flor, e de João Baptista Lopes Monteiro, natural de Carrazeda de Ansiães.

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