16 maio 2014

e de repente é noite (XXIV)

A charneca de yorkshire aberta
até ao campanário do presbitério.
As nortadas fendendo os muros da herdade.
E a minha esperança que um alto poder
me devolva a sua figura branca
no escuro da cancela. O lenço de seda
flutuando nos pêndulos de luz
dos seus cabelos. A finura dos lábios.
As violetas em redor dos olhos.
Onde estarão, na primavera,
os ventos uivantes no grafismo da neve?
Onde estarei eu de há cinquenta anos
colhendo, até ao fim da noite,
as rosas pressagas do seu jardim
transfigurado em livro?

Poema de João de Sá, do livro "E de repente é noite", 2008.
Fotografia: Castanheiros em Benlhevai.

1 comentário:

Transmontana disse...

Lindos, a foto e o poema!