25 maio 2010

De volta ao cabeço de S. Cristóvão

Já foi em Fevereiro que subi, mais uma vez, ao alto do cabeço de S. Cristóvão, em Vila Boas. Quando me dirigi, de carro, para Vilas Boas tinha dois objectivos: o primeiro era a georreferenciação de lixeiras para o evento Limpar Portugal, que teve lugar no dia 20 de Março; o segundo era descobrir uma caverna a que chamam Pala da Feiticeira, que nunca encontrei nas minhas anteriores visitas.
Visitei alguns locais meus conhecidos onde sabia que depositavam lixo, sobretudo monstros e entulho. Para surpresa minha a quantidade de lixo que encontrei era muito reduzida! Foi uma boa surpresa! Ao contrário do que verifiquei noutras freguesias, estou em crer que em Vilas Boas o lixo depositado no termo da mesma, são alvo de atenção e remoção. Está de parabéns a Junta de Freguesia.

O meu passeio, propriamente dito, começou na fonte de Nossa Senhora. O espaço estava com aspecto bastante desolador. Em Fevereiro ainda não havia folhas nas árvores e o jardim ainda não tinha dado sinais de vida. Aproveitei para fazer algumas fotografias da alameda de eucaliptos, mas não consegui o efeito que desejava. É um motivo a que espero voltar um dia.

Atravessei a aldeia mas não encontrei ninguém. Encontrar a Pala da Feiticeira sem a indicação de alguém residente é quase impossível, por isso mudei de objectivo. Deixei o carro junto à queijaria e segui por um caminho que atravessa todos os montes a meia encosta, a nascente. Verifiquei, mais uma vez, que há bastante alecrim selvagem. A primeira vez que o encontrei julguei tratar-se de alguma planta que sobreviveu nalgum antigo terreno cultivado, mas há alecrim espalhado por todo lado, até no meio dos pinhais.

Seguindo o caminho é necessário andar alguns quilómetros para chegar às ruínas da antiga capela de S. Sebastião. Subi em corta mato pela encosta arriba. Não é tarefa fácil, mas se já o tinha feito uma vez com a bicicleta às costas, melhor o fiz sem ela.
Quando se atingem as ruínas da capela, situadas num pequeno promontório, desfruta-se de uma bonita paisagem avistando-se a aldeia de Vilas Boas, o Cabeço, Meireles e algumas casas do Cachão. O dia estava muito instável mas quando o sol iluminava as colinas realçava o relevo que ganhava contornos estranhos visto do alto.

Neste passeio houve outra novidade. Pela primeira vez levei um leitor de MP3 e uns auscultadores. A música que actualmente ouço pode ser classificada como New Age, New World-Music, Ambient, Ethnic Music, Chillout, Spanish Guitar, etc. Só sei que combina na perfeição com a tranquilidade destes ambientes inóspitos. Sons com influência celta, árabe ou oriental, que convidam à contemplação e favorecem o relaxamento. Não quer dizer que os sons da natureza não sejam repousantes, ou mesmo o silêncio, mas gostei de percorrer as montanhas com estes novos ritmos.
Perto das seis da tarde atingi o topo do monte de S. Cristóvão onde se encontra um pequeno marco geodésico. Este é um dos pontos mais espectaculares do concelho. O olhar percorre 360⁰ descobrindo sempre coisas novas no horizonte. A visão que se tem deste lugar supera aquela que se tem do alto do Cabeço, que já é de cortar a respiração.

O sol foi-se encostando à linha do horizonte fazendo brilhar da cor da prata o Tua, junto à Ribeirinha e senti que tinha de sair dalí com a maior urgência. Segui durante algum tempo para Norte em busca do caminho. Estas fragas são do mais agreste que se pode imaginar. Apesar de esta área ter ardido há poucos anos, a vegetação rasteira constituída essencialmente por giestas, estevas, urze e carqueja engole-nos, não nos deixando ver por onde caminhamos. Já bastante próximo do Monte do Faro, encontrei o caminho. Este é outro monte onde vale a pena subir mas a noite estava quase a chegar. Rebusquei no fundo da mochila os bolos económicos que levei e ajustei os auscultadores. O caminho é longo. Parte em direcção ao Cachão quando tem que nos levar para Vilas Boas, mas esta é a forma de vencer o declive acentuado, descrevendo z’s na encosta. Não sei quanto tempo demorei a chegar ao carro. Deixei-me levar pela noite e pelos cenários criados pela música e pelas silhuetas das árvores que se curvavam para o caminho à minha passagem. O importante foi não me desviar do caminho, que conhecia bem. De noite tudo ganha novos contornos e sem os pontos de referência habituais é como caminhar no vazio.

Não encontrei lixeiras, não descobri a Pala da Feiticeira, mas foi uma aventura emocionante. Desde esse dia nunca mais saí sem o meu leitor de MP3 (presente dos filhos, no Natal passado).

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