13 outubro 2007

Na Capela de N.ª S.ª da Esperança, em Benlhevai


No dia 18 de Setembro, já muito próximo do final da tarde levou-me a curiosidade até Benlhevai. Nas minhas anteriores visitas à aldeia nunca tive tempo para me deslocar à Capela de Nossa Senhora da Esperança. Numa conversa que tive com alguns habitantes, confessaram-me terem casado na capela e dela guardarem muitas recordações. Vista da aldeia, não é mais de que uma parede em ruínas cheia de silvas e outra vegetação que a vai devorando pouco a pouco. Coroa uma pequena elevação, rodeada por oliveiras, ali, vigilante, entre a aldeia espaiada ao sol e o vasto Vale da Vilariça, lá ao fundo. Prometi visitá-la e estava a cumprir o prometido.
Desloquei-me a Benlhevai de carro, que deixei próximo da Rua do Poço Andrez. Por instinto, segui pelo caminho certo. Depois da última casa, havia algumas hortas com couves viçosas, tomates e cércias. As vespas banqueteavam-se com o néctar dos figos maduros que se ofereciam por cima do caminho e com bagos de uvas que pendiam das videiras que envolvem uma antiga nora. Por cima, um galo de chapa, mais parecendo um cata-vento no alto de uma igreja, vigiava a tranquilidade do local, não fosse algo perturbar a paz do ambiente rural que se respirava.

Um pouco mais à frente encontrei umas alminhas em azulejo azul e branco. Mais uma vez se enganaram a colar os azulejos. Num total de 6, 4 estão fora do seu lugar, mas, pelas marcas, já aí estão há muito tempo.
Quase sem dar conte cheguei à pequena capela. Não sei mesmo se a designação de capela está correcta, possivelmente terá sido a igreja primitiva. Consagrada a Nossa Senhora da Esperança, apresenta uma planta constituída por nave e capela-mor sem qualquer elemento decorativo. O arco da fachada da porta principal e o que divide os dois espaços são românicos. Na fachada, do lado direito junto ao pórtico, a cerca de meio metro de altura está gravada e bem visível uma cruz de Malta.
Com cuidado entrei no interior completamente invadido de mato. Algumas árvores mais possantes, como carvalhos, vão engrossando as raízes, pondo em risco o pouco que resta. As paredes, que resistiram impávidas à passagem do tempo, ficam fragilizadas, porque a água das chuvas lhe penetra nas entranhas, arrastando-lhe o barro.

Tal como imaginava, do local tem-se uma óptima vista sobre a aldeia. Aproveitei para fazer uma série de fotografias, que fui repetindo conforme a luz do sol ia escasseando. Rodeei a capela. Também em direcção ao Vale a vista é digna de ser admirada. Alguns passos em busca do ângulo certo fizeram-me tropeçar em pedaços de cerâmica. Por momentos pensei que fosse uma tendência minha para encontrar vestígios de outros tempos, em todos os locais, mas, com uma busca mais apurada, encontrei mesmo alguns pedaços de cerâmica negra, decorada e que nada devem ter a ver com a cobertura de telha que a capela tinha. Embora a maioria da cerâmica que se encontra seja recente, a quantidade, variedade existentes e a área que abrange, a Sudoeste da capela, são pelo menos suficientes para levantar a dúvida da existência de alguma estrutura habitacional. A prová-lo está também o facto de ali terem sido encontrados dois machados de pedra polidos e um fragmento de mó manual.
Na minha prospecção do terreno esbarrei com uma haste florida de branco. Mais adiante havia mais algumas. Sentei-me no chão procurando captar a fragilidade das suas flores à medida que o sol se foi sumindo, semeando as sombras e o silêncio.

Quando o Sol se escondeu por detrás do Maragato, abandonei o local, não fossem os habitantes de Benlhevai atribuir os disparos do flash a alguma causa do além, ou a alguns ser extraterrestre que visitava as ruínas da Capela de Nossa Senhora da Esperança ao crepúsculo.

1 comentário:

Anónimo disse...

Fico satisfeita por mais uma vez ter tentado visitar Benlhevai,ficaram de facto várias coisas por ver...talvez na próxima!Parabéns pelas fotos.